Artista do Mês - David Lynch



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De um tempo pra cá, algumas coisas vem me incomodando no cenário cinematográfico moderno. É muito difícil achar produções inteligentes e reflexivas, as quais você continua pensando durante dias depois de assistí-las.

Hoje em dia tudo vem em uma fórmula pronta, mastigada, produzida apenas para o simples entretenimento inerte. Pode parecer pretencioso, mas eu aprecio um bom desafio intelectual. Curto quebrar a cabeça para tentar imaginar o que o criador da obra estava pensando quando a executou. Aonde ele quer chegar? Qual a sua real interpretação e significado?

Não considero O Artista do Mês, no caso diretor, um cara que produz suas obras para se adequar ao o cenário cinematográfico atual. Ele continua ativo mas já construiu uma longa, duradoura e artística carreira ao longo dos anos.

Tenho muitos diretores favoritos, mas este é o único cuja filmografia completa eu assisti, por isso posso falar sobre ele com conhecimento de causa. Confesso também que nunca consigo compreender completamente suas criações e epifanias, ou se entendo, provavelmente estou redondamente enganado.
Mas como eu já disse, eu gosto de um desafio.

Portanto, apresento-lhes David Lynch!



David Keith Lynch nasceu em 1945 na cidade de Missoula (Montana - USA). Depois que se formou no ensino médio, ele entrou para o School of the Museum of Fine Arts, logo após, planejou uma viagem de 3 anos para a Europa para aprimorar sua arte.

Em 1977, lançou seu primeiro filme, Eraserhead (1977) o qual ele trabalhou obssessivamente por cinco anos. O longa não foi muito aclamado criticamente e foi julgado como muito estranho para ser lançado, mas foi admirado por diversas pessoas, inclusive pelo renomado diretor Francis Ford Coppola. Posteriormente, se tornou um cult, o que permitiu David Lynch a encarar produções mais famosas, como O Homem Elefante (1980). A partir disso, vários convites e portas se abriram para ele trabalhar em filmes mais mainstream, o que o levou a dirigir o filme Duna (1984), mas que acabou se tornando um fracasso comercial.
A pior coisa deste mundo moderno é que as pessoas pensam que quando você é assassinado nas telas, você não sangra ou sente dor. Deve entrar na cabeça das crianças que matar alguém não faz bagunça, não machuca tanto. Isso que é realmente doentio para mim.
- The New York Times Magazine (14 de Janeiro de 1990)
 Depois de todo esse desastre, David Lynch retornou à sua essência e produziu o clássico e original Veludo Azul (1986). Conseguiu o prêmio máximo como diretor no festival de Cannes com o seu sombrio e violento Coração Selvagem (1990), no qual Nicolas Cage era o protagonista (Curiosidade: Nicolas Cage é sobrinho do Coppola!!)

Lynch também ganhou vários fãs depois da surreal série televisiva Twin Peaks (1990), que algum tempo depois recebeu uma adaptação para o cinema.

Depois dos anos 90, já podemos perceber claramente sua originalidade estética e personalidade técnica, como em Estrada Perdida (1997) e Mulholland Dr. (2001), trabalhando ao lado de Naomi Watts, Laura Harring e Justin Theroux. Considero este longa como o auge de sua carreira, e o meu favorito.

"SilencioNo hay banda." - Cena de Mulholland Dr. (2001)
Seu último trabalho em longa-metragens foi o bizarro Império dos Sonhos (2006), protagonizado por Laura Dern – que também protagonizou Veludo Azul (1986) e Coração Selvagem (1990). E admito que foi uma das coisas mais perturbadores que já tive o prazer de assistir, onde ele praticamente juntou todas as suas formas criativas em uma obra cuja experiência de assistí-la quase equivale a um pesadelo e um derrame cerebral. Acho que nunca encontrarei algo que se equipare a Império dos Sonhos (2006), ou talvez nunca existirá.

David ganhou muita reputação por ser um dos melhores diretores da indústria do cinema e um dos poucos que ainda persiste, atualmente em Hollywood, em fazer um cinema único e clássico, detendo importância cinematográfica para os dias atuais e cujo impacto na época em que foi feito, ainda se perpetua, assim como sua recepção universal.
Eu acho que as pessoas não aceitam o fato da vida não fazer sentido. Isso as deixam desconfortáveis.
-Dark Clown Porn Snuff for Terrorists and Gorefiends (2005) by Jason Rogers.
Suas produções continuam traduzindo seu verdadeiro ideal do que é um filme: representar a vida, que é complicada e em alguns casos e cenas, inexplicável. Ele sabe dominar perfeitamente sua técnica única.

Quando assistimos, as imagens podem parecer desconexas, mas é perceptível que o diretor sabe perfeitamente o que está fazendo. Calcula milimetricamente as cenas, os cortes, os efeitos, filtros, luzes, cores, atores, vestuário e música.

Por essa razão e pelas suas obras incrivelmente bizarras e confusas, que ele sempre será um dos melhores e mais originais diretores da história. É um mestre criativo e mesmo que seus filmes não sejam necessariamente realísticos, eles são reais em sua representação do que é a vida: confusa, uma irracional série de acontecimentos aleatórios que no final tem um significado e cada um faz sua interpretação pessoal de cada evento, dando à sua vida um propósito pessoal. Lynch almeja atingir o público de forma emocional e instintiva e que cada um o interprete de sua própria maneira.

Atualmente, ele está parado na área de longa-metragens, mas continua produzindo vários curtas ao longo dos anos.
Estar confuso e no escuro é interessante para mim. Desta forma, eu posso me reerguer e enxergar as coisas como elas realmente são.
- The Evolution of the American Horror Film (2004) by Joseph Maddrey
 Curiosidades Técnicas:
  • Tem preferência por barulhos em baixa frequência, ambientes escuros e em estado de putrefação;
  • Personagens distorcidos, mundos polarizados e pessoas com debilidades no crânio ou mentais;
  • Em Twin Peaks (1990), fez alguns atores decorarem suas falas de trás para frente e para depois de gravada a cena, a fala ficasse correta, mas com um efeito vocal e movimentação estranha;
  • Utiliza stop-motion como técnica para cenas de violência;
  • Uso de cortinas vermelhas;
  • Feixes de luz;
  • Ressalta a sensualidade e elegância feminina com roupas e batons vermelhos;
  • Pessoas em geral e mulheres nuas fumando;
  • Usa constantemente sonhos e pesadelos como forma de conectar cenas e reviravoltas;
  • Closes nos olhos;
  • Surrealismo extremo.
Me sinto desconfortável em explicar o significado das coisas, é melhor não tentar racionalizá-las. Porque a minha compreensão pode ser diferente da interpretação de qualquer outra pessoa.

- Dark Clown Porn Snuff for Terrorists and Gorefiends (2005) by Jason Rogers.

Curiosidades Pessoais:
  • Trabalhou como faxineiro durante a inauguração da presidência de John F. Kennedy (20 de Janeiro de 1961);
  • Exigiu que as cópias de seus DVDs não contivessem a opção de parar. Ele acredita que tudo deve ser assistido do início ao fim, sem interrupções. Assim como se negou a fazer uma versão comentada, por achar que filmes devem falar por si mesmos;
  • Desenha a maioria dos prédios e os movéis de seus filmes. Isso pode ser visto no documentário Pretty as a Picture: The Art of David Lynch (1997);
  • Possui alguns projetos escritos, mas que ainda não foram concluídos como “Ronnie Rocket”, “Up at the Lake”, e “One Saliva Bubble”;
  • Depois que o diretor George Lucas assistiu Eraserhead (1977), ele ofereceu a David a oportunidade de dirigir Star Wars, Episódio VI - O Retorno do Jedi (1983), mas Lynch recusou por achar que o filme tinha mais a cara do George Lucas do que dele;
  • Possui influência de alguns diretores como: Luis Buñuel, Werner Herzog, Federico Fellini, Ingmar Bergman, Stanley Kubrick e Roman Polanski;
  • Foi presidente do juri no festival de Cannes em 2002;
  • É famoso (ou odiado) por não explicar sobre o que Eraserhead (1977) se trata. Prefere que o público decida o seu significado;
  • Admira e afirma O Mágico de Oz (1939) como um de seus filmes favoritos, e ainda, faz muitas referências do clássico em seus filmes. A mais perceptível é em Coração Selvagem (1990). Um Corpo Que Cai (1958) e Glen ou Glenda? (1953) também fazem parte dos seus favoritos.
Dicas de filmes

Encerro por aqui o meu texto! Eu poderia ficar falando sobre David Lynch por meses e mesmo assim ainda teria muito a se dizer.
Deixarei esse assunto para um futuro artigo ou conversa de bar...

Muito obrigado e até semana que vem!!

E deixo vocês com esse vídeo que contém as bizarrices e surrealismos de vários de seus trabalhos.









2 comentários:

Hara at: 12 de outubro de 2012 às 21:25 disse...

No dia que eu tiver uma opinião conclusiva sobre Mulholland Drive, serei uma pessoa cinematrograficamente satisfeita.
Tô assistindo Twin Peaks (tá que faz algum tempo tô me enrolando), e não sei, minha opinião pessoal, achei que é um tanto diferente da maioria dos trabalhos dele. Claro que tem MUITOS pontos fortíssimos do trabalho dele, muitos mesmo, mas tem muita coisa também do Mark Frost. Mas acho que os dois são surtados no memso nível, então a série é ótima haha
Como você disse, poderia passar meses falando dele, isso sem ao menos ter assistido metade da filmografia. E David Lynch costuma me render muitas conversas de bar haha

Lucas Ka7o at: 13 de outubro de 2012 às 14:08 disse...

Eu tenho as minhas várias teorias sobre Mulholland Drive, mas nunca saberei se estão certas ou não HAHA
Mas acho que Inland Empire é pior, ao menos em Mulholland Drive eu consigo formular uma teoria, em Inland Empire, eu não consigo nem raciocinar!

David Lynch sempre rende muitas conversas de bar!!

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